quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Crows


Um mangá sobre delinquentes juvenis japoneses sendo delinquentes juvenis japoneses. Acreditem, é muito legal.

Crows foi  lançado de 1990 a 1998 na revista Montly Shonen Champion, totalizando 26 volumes e 95 capítulos, sob a autoria de Hiroshi Takahashi. O mangá conta a história de Bouya Harumichi, um delinquente que acabou de ser transferido para a famosa escola Suzuran, que devido ao enorme número de delinquentes juvenis ficou conhecida como a escola dos corvos, acompanhamos a história de Harumichi enquanto acaba se metendo em disputas de poder com outros delinquentes de Suzuran e da cidade.

Este mangá é um caso engraçado, focado no mundo da marginalidade juvenil ele ainda assim consegue reunir uma gama de elementos úteis para o autor sem que se perca a essência do que faz o mangá ser oque é. Falar de delinquentes japoneses não é algo incomum, e devo dizer, Crows é um pináculo do gênero que faz uso da violenta cultura jovem de rua como entretenimento, isso porque diferente da grande maioria das obras do nicho que adora usar os famigerados yankees como elemento secundário, Crows tem como foco único os próprios yankees e seu mundo de gangues, disputas de território e brigas pela supremacia.


O termo yankee é muito difundido na cultura japonesa, mas não como forma de designar pessoas norte-americanas como provavelmente o resto do mundo tem concepção, mas sim para designar um grupo de indivíduos que forma uma das subculturas japonesas mais difundidas e exploradas pela mídia. 

Falar em yankee no Japão é falar em contracultura, marginalidade e rebeldia adolescente, é falar em pessoas usando roupas e penteados que vão contra aquilo que é ditado pela moda,  é falar em garotos usando penteados extravagantes, uniformes escolares grandes demais sobressaindo alguma forma de imponência, gangues de motoqueiros parecendo retirados direto de um filme americano dos anos 60 lutando nas ruas por controle de territórios e influência. Tudo isso mesclado a um senso de união e cooperação que só um japonês conseguiria combinar com rebeldia e violência.


Crows explora o mundo dos yankees sob uma perspectiva bem focada, quase não há personagens no mangá que não sejam delinquentes mal encarados prontos para tirar e derramar sangue com os punhos por nada mais que orgulho. Esse enfoque em particular, ver o mundo em que vivem esses delinquentes por dentro, sem que haja interferência de uma sociedade julgadora pronta para condenar a sede de violência e rebeldia destes jovens, pode ser considerado o âmago do que concerne o poder de imersão de Crows.

É louvável o quanto é fácil ser atraído e imerso no universo da obra, seja pelo charme e imponência exalada pela subcultura yankee, seja pelo carisma dos personagens, ou pelo que só colabora com os elementos anteriores que é a capacidade de evolução que o autor demonstra durante os oito anos e 26 volumes do mangá. Acompanhar o mangá é ver o autor e seus personagens evoluindo, uma arte simplista e nada chamativa se tornar tão autoral pela capacidade de tornar seus personagens imponentes e ameaçadores que chega a ser difícil acreditar que se trata do mesmo mangá do começo.


Isso tudo aliado a boa junção de elementos que o autor faz. Tendo a estrutura de um battle shonen, oque parece ser uma mistura que dificilmente casaria bem, devido aos valores éticos que os battle shonens tendem a querer passar, mas o casamento entre os elementos foi muito bem feito, por mais que no mangá não haja muito mais do que valentões lutando para decidir quem será o mais forte e comandará sobre os outros, o autor consegue inserir valores morais de respeito e amizade até mesmo nestas disputas sem sentido, sem falar nos toques bem dados de comédia para deixar tudo mais leve.

É uma leitura fácil, não há uma grande e intricada trama, por mais que as disputas entre gangues adolescentes por vezes se façam passar por guerras psicológicas de proporções extravagantes, dificilmente o leitor se perde na simplicidade do roteiro que quase sempre acaba resolvendo seus conflitos na simplicidade reconfortante de uma luta final bem orquestrada entre nosso herói Harumichi e o inimigo da vez.


Vale citar o crescimento de Harumichi, assim como dos demais personagens, no decorrer do mangá. A evolução que eles apresentam é pautada na evolução que o autor demonstra em sua maneira de contar a historia e de representar seus personagens, a grande maioria deles não demonstra muito carisma ou profundidade inicialmente, porém, no decorrer do mangá eles crescem de maneira considerável, o autor melhora em sua capacidade de nos fazer se importar com eles, muitos personagens que só surgem em pontos avançados da trama se tornam tão importantes em relação ao contato com o leitor que é difícil não coloca-los em patamares elevados estima pessoal.

O mangá te carrega no crescimento de personagens em meio a disputas de poder e lutas sangrentas enquanto te dá bons motivos para continuar lendo, como estes mesmos personagens cativantes e sua trama simples e linear, sempre regada com boas doses de comédia em em meio a ação. Vale a pena dar uma chance à diversão que essa leitura pode te proporcionar.


Vale citar que Crows foi um fenômeno tão grande dentro de seu nicho no japão que deu origem a um universo conjunto que abriga uma extensa gama de obras de propostas semelhantes. Hoje existem dezenas de prequels, spin-offs e gaidens da série original, inclusive um mangá que faz continuação direta a história de Crows, abordando uma nova geração de alunos de Suzuran, o mais recente sucesso do autor, Worst, que por sua vez também conta com sua infinidade de gaidens.

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Então foi isso pessoal, espero que tenham se animado a ler este mangá, e se não, fico devendo uma recomendação que lhes agrade. Sinta-se convidado também a divulgar o post e o blog para seus amigos, vizinhos e companheiros de gangue.

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